Lá onde eu moro: veja o relato de quem vive nos distritos de Perdizes e Vila Leopoldina
O melhor daqui é que sou amigo de todo mundo
Tom Zé, 79, músico
Isadora Brant/Folhapress | ||
O músico Tom Zé em seu apartamento, no bairro de Perdizes, na zona oeste de São Paulo |
Quando eu me mudei para Perdizes, nos anos 1970, o [músico] Moacir Albuquerque disse: isso aqui parece Londres, só tem telhados.
Hoje, todos os telhados são prédios. O melhor daqui é que sou amigo de todo mundo ""sou 'móveis e utensílios' do bairro. É muito alegre ir à padaria, é como ir a um lugar onde, antes de Cristo, paravam as caravanas.
Todos se veem, todos se falam.
O que tem de ruim? Olha, já reparei que em São Paulo o pessoal tem o hábito de se queixar de tudo, tem que falar mal da cidade para estar na moda. Mas a gente do Nordeste não é assim. Se tem algo de ruim, preciso perguntar para o meu vizinho.
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Bares com mesas nas calçadas são a cara do bairro
Thiago Koch, 31, chef de cozinha
Divulgação | ||
Thiago Koch, 31, chef da lanchonete Bullger, em Perdizes |
Fui morar em Perdizes há oito anos porque queria uma casa própria. O legal do bairro é que é bem família, tem lugares legais que não são tão badalados e dá para se divertir sem sair da região.
O forte são os bares tradicionais, onde as pessoas vão tomar uma cervejinha. Eles servem na garrafa e têm mesas na calçada, essa é a cara do bairro. As ruas são pequenas, mas há muitos caminhos alternativos por dentro do bairro, se houver trânsito.
Uma crítica é que alguns estabelecimentos da região são muito caros, o aluguel nem é tão alto para pedirem o preço que cobram. Ainda assim, não tenho vontade de morar em outro lugar.
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As crianças brincavam nas várzeas dos rios
José Carlos de Barros, 79, historiador
Acompanhei de perto as transformações da Vila Leopoldina desde que nasci. Na década de 1930, a região era rural e cheia de fazendas.
Eu me lembro bem dos chacreiros trazendo o leite e as hortaliças pela manhã.
As pessoas chegavam de barco na junção dos rios Tietê e Pinheiros. Próximo às várzeas existiam "prainhas", onde crianças iam nadar.
Na década de 1950, começaram a retificação dos rios e a urbanização da cidade. Isso acabou poluindo a água e impedindo o seu uso.
Personagens históricos viveram aqui, como ex-combatentes da Revolução Constitucionalista de 1932 e o sertanista Orlando Villas-Bôas.
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Vou a pé para o trabalho, o que é um luxo em SP
Carlos Betti, 52, produtor-executivo da O2 Filmes
Karime Xavier/Folhapress | ||
Carlos Betti, produtor da O2 filmes mora na Vila Leopoldina |
Essa área está passando por uma grande mudança. Muitos galpões começaram a ser demolidos para dar lugar a prédios. A estrutura do bairro está ficando melhor.
Quando comprei meu apartamento, o custo era muito bom. Aqui, estou perto do meu trabalho. Vou a pé: fazer isso em São Paulo, hoje, é um luxo. Da janela do meu apartamento, no 26°andar, enxergo a produtora.
Dá até para ver quem chega. Controlo de casa.
O bairro é ótimo, tem muita coisa boa. Tem o parque Villa-Lobos aqui do lado, que é excelente, e o shopping, também. O que eu menos gosto é que –por enquanto– os arredores são galpões.
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Gosto de ter contato com os torcedores
César Sampaio, 47, ex-jogador do Palmeiras
Rivaldo Gomes-8.jun.08/Folhapress | ||
César Sampaio, ex-jogador do Palmeiras |
Sou do Jabaquara, mas, quando fui para o Palmeiras, em 1992, escolhi Perdizes para morar, por ser próximo ao centro de treinamento. Adaptei-me bem.
É um bairro residencial, familiar, com shoppings, restaurantes e ainda fica perto do metrô.
Vários amigos boleiros moram por aqui, como Luizão, Dodô, Edu Gaspar, Marcos. O Marcão é o capitão do bairro. Com o novo estádio do Palmeiras, o número de torcedores nas ruas aumentou, o que é legal. Gosto desse contato.
Em dias de jogos ou shows, é bom se programar para chegar em casa com muita antecedência, as ruas lotam. Mas nunca presenciei nenhum confronto ou problema.