Perdizes/Vila Leopoldina

Distrito de Perdizes é reduto de palmeirenses em SP e tem ruas, bares e pousadas temáticas

Em dia de jogo do Palmeiras no Allianz Parque, em Perdizes, zona oeste de São Paulo, as ruas do bairro se transformam em um mar verde de torcedores.

Se o título vem, como foi o caso da Copa do Brasil de 2015, a festa se estende até a madrugada, o hino é entoado à exaustão, as buzinas e os rojões são ouvidos de longe.

Mas não é só em dia de jogo que Perdizes é "verde". Basta uma caminhada pelas ruas do entorno do estádio para perceber que a região é um reduto de torcedores do time na capital paulista.

Segundo a pesquisa DNA Paulistano, feita pelo Datafolha em 2012, o distrito é o terceiro da cidade com mais torcedores alviverdes -23% dos moradores–, só perde para os vizinhos Lapa e Barra Funda, com 29% e 24% respectivamente.

O processo de inserção do clube no bairro é um dos responsáveis por isso. Em 1917, o Palestra Itália (antigo nome do Palmeiras) passou a arrendar o campo do Parque Antártica para sediar seus jogos. Três anos depois, em 1920, o clube comprou a área. Em 1933, inaugurou o próprio estádio.

Karime Xavier/Folhapress
 Ex-bancário Reinaldo Gonçalves Filho, 31, palmeirense e morador de Perdizes
Ex-bancário Reinaldo Gonçalves Filho, 31, palmeirense e morador de Perdizes

"Em pouco tempo, o Palmeiras, que era o clube dos italianos, se tornou uma referência da região, onde também moravam muitos italianos", afirma o pesquisador esportivo Celso Unzelte, autor de "O Livro de Ouro do Futebol" (Ediouro-Singular, 624 págs., R$ 64,90).

Em 1991, a inauguração do centro de treinamento do clube, na Barra Funda –que divide muros com o do São Paulo– estreitou ainda mais o elo entre bairro e torcedores. E ainda ocasionou um novo fenômeno: jogadores do Palmeiras passaram a residir no bairro, como o goleiro Marcos e o volante Cesar Sampaio, ídolos da torcida.

"Gosto muito do bairro, não falta nada. O problema são os alagamentos quando chove bastante, mas a gente tira de letra", afirma o zagueiro Vitor Hugo, que está no time (e em Perdizes) desde 2015.

TUDO VERDE

Na rua Palestra Itália, que ganhou esse nome em 2015 em homenagem ao clube, até os letreiros com os preços das comidas nos bares e restaurantes são verdes.

Outros logradouros também fazem alusão ao clube, como a passarela próxima ao shopping West Plaza: "Palmeiras - Arrancada Histórica 1942", referência ao ano em que o clube deixou de se chamar Palestra Itália e adotou o nome atual.

Para Unzelte, em Perdizes acontece um fenômeno típico da Inglaterra: a existência de redutos de torcedores.

"O Palmeiras é o único clube grande de São Paulo relacionado a um bairro desde muito cedo, o que é comum na Inglaterra. O mesmo não aconteceu com o Corinthians, que não mandava jogos no Parque São Jorge, nem com o São Paulo, que só chegou ao Morumbi em 1960."

Outro fator que aproxima o Palmeiras e Perdizes do caso inglês, de acordo com Unzelte, é o encontro de torcedores em bares e botecos da região antes dos jogos. "É como nos pubs ingleses."

Foi juntando negócios e paixão que o ex-bancário Reinaldo Gonçalves Filho, 31, palmeirense e morador de Perdizes, abriu um hostel decorado com cores do time. Aberto em 2013, o local -que dá descontos para torcedores– já virou um ponto de encontro antes das partidas.

"Recebo muita gente de cidades próximas, como Sorocaba, Jundiaí e Campinas, que prefere dormir aqui do que pegar estrada à noite ou depois de beber. Mas vem pessoas do Brasil inteiro, inclusive do Acre", conta.

Ele garante, no entanto, que está aberto a todas as torcidas. "As referências palmeirenses no site são bem discretas. Uma vez até um corintiano, com uniforme e tudo, ficou aqui. Eu perguntei para ele: 'Você tem certeza?'. Foi engraçado".

Esse vínculo entre clube e moradores tem reflexo até no mercado imobiliário. No ano passado, o Palmeiras fechou uma parceria com a construtora Tecnisa, responsável pelo megaempreendimento Jardim das Perdizes, na avenida Marques de São Vicente.

De agosto a novembro de 2015, quem comprasse um apartamento ganhava dois anos de ingressos, além de camisetas autografadas e bolas.

"Os clubes têm um potencial muito grande de geração de negócios e estamos sempre atentos a isso. Vimos na relação do bairro com o Palmeiras algo a ser explorado", afirma Roberto Trinas, diretor de marketing do clube, que considera positivo o balanço da promoção.

Tanto o Palmeiras quanto a Tecnisa afirmam estar em contato para outras parcerias nesse segmento.

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