Santana/Casa Verde

Casa bandeirista reúne relíquias de sítios arqueológicos

Raquel Cunha/Folhapress
Casa-sede do Sítio Morrinhos, sede do Centro de Arqueologia de São Paulo
Casa-sede do Sítio Morrinhos, sede do Centro de Arqueologia de São Paulo

Com uma discreta identificação no portal de entrada, o Sítio Morrinhos, sede do Centro de Arqueologia de São Paulo, é um local que ainda não foi descoberto pelos paulistanos.

A construção bandeirista, no Jardim São Bento (zona norte), recebe cerca de 570 visitantes por mês –a maioria estudantes de arquitetura.

Não à toa: no curral da construção, uma das casas históricas do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), fica um acervo de mais de 1 milhão de peças retiradas de sítios arqueológicos da cidade, como o largo da Batata e o Pátio do Colégio.

"No Brasil, somos acostumados a pensar na história a partir da invasão europeia, mas, se você pegar escavações do Sítio Morumbi, por exemplo, há peças que datam de 5.000, 6.000 anos atrás", diz a arqueóloga Paula Nishida, diretora do espaço.

A maior parte dos artefatos está em caixas, longe da vista do público, como uma jarra do século 19 retirada do perímetro do projeto Nova Luz e uma coleção de botões encontrada no Solar da Marquesa de Santos, no centro.

Cerca de uma centena fica na exposição permanente "Escavando o Passado "" Arqueologia na Cidade de São Paulo", como ferramentas de caça, uma urna funerária e vasilhas feitas por índios ceramistas a partir do século 8.

"Tentamos resumir o que a gente pode contar sobre a cidade de São Paulo por meio da arqueologia", diz o educador Thiago Nascimento.

Um cômodo da casa abriga a mostra "Mãos no Barro da Cidade: Uma Olaria no Coração de Pinheiros". Nela, há cerâmicas com mais de 200 anos, supostamente produzidas e vendidas em oficinas do bairro da região oeste para imigrantes portugueses. Algumas peças podem ser vistas em 3D em tablets e em réplicas que podem ser tocadas.

"É fantástico ver peças tão antigas e conservadas. E o prédio, apesar de ter passado por muitos restauros, teve a arquitetura preservada", diz Camila Souza, 18, estudante de arquitetura que foi ao local para realizar um trabalho do curso. ]

"O acervo é pequeno e intrigante. Adorei o sítio, mas não encontramos nenhuma atividade", diz a estudante pré-vestibular Audrey Balleroni, 21.

Acredita-se, a partir de uma inscrição entalhada na verga da porta principal, que o sítio seja de 1702.

Erguida com paredes de taipa de pilão –método de construção que misturava barro com vísceras e sangue de animais–, a casa-sede da então propriedade rural serviu de morada para bandeirantes durante a primeira fase da colonização brasileira.

Dois séculos depois, virou casa de descanso para monges beneditinos, responsáveis por alterar a arquitetura do local, introduzindo, por exemplo, arcos de estilo neoclássico em janelas e portas.

O local passou por diversos donos e, nos anos 1950, chegou a ter parte das terras loteada numa parceria do Mosteiro São Bento com a construtora Camargo Corrêa, formando o que hoje é conhecido como bairro Jardim São Bento. O núcleo principal, que já havia sido tombado, foi doado à prefeitura.

Após um período de abandono, o Sítio Morrinhos foi reformado nos anos 2000.

SÍTIO MORRINHOS
ONDE rua Santo Anselmo, 102, Jardim São Bento
QUANDO ter. a dom., das 9h às 17h; grátis
CONTATO tel. (11) 2236-6121

Bairros da Série