Tatuapé/Mooca

Bairro do Tatuapé foi pioneiro no cultivo de uva no país

Arquivo Pessoal
Antiga chácara da família Marengo, produtora de uvas
Antiga chácara da família Marengo, produtora de uvas

Não sobrou videira para contar história, mas foi no Tatuapé, onde hoje fica um punhado de prédios, perto da linha do trem, na zona leste, que as primeiras terras brasileiras foram destinadas ao cultivo da uva.

O início da produção se deu com a chegada do português Brás Cubas, em 1532, na então Capitania de São Vicente, que incluía a região leste paulistana e trechos do litoral.

"Com a ajuda de familiares e outros imigrantes, ele produziu vinho antes mesmo do colégio de padres jesuítas ser fundado, em 1554. O Tatuapé é o berço do vinho no Brasil", afirma o historiador Pedro Abarca, que conduz pesquisas sobre o bairro há 20 anos.

Três séculos depois, em 1865, a atividade foi retomada por João da Silva Carrão -também conhecido como Conselheiro Carrão- no local onde hoje fica o bairro com seu nome.

A produção de uvas na região passaria por mudanças 20 anos depois, em 1885, quando chegou ao local o italiano Benedetto Marengo 2º.

Ele decidiu cultivar a uva norte-americana Niágara branca. Logo, porém, uma mutação acabou dando origem a uma nova versão rosada que ficou conhecida como uva Marengo.

Apesar de inicialmente não ter sido bem aceita pelos consumidores, acabou se tornando popular -foi inclusive citada no livro "Novelas Paulistanas", de Antônio Alcântara Machado.

Para manter seu cultivo, Marengo adquiriu várias chácaras na região. A maior delas ficava no quadrilátero hoje formado pelas ruas Aguapeí, Antônio de Barros, Emília Marengo e Francisco Marengo -as últimas homenagem respectivamente o filho e à nora de Benedetto.

"São Paulo era provinciana, uma cidade pequena, as pessoas não tinham para onde ir, então uma das principais atrações na época da colheita era a vinda das famílias à nossa chácara", conta Armando Marengo, 83, bisneto do imigrante italiano e neto de Emília e Francisco.

Sob tutela de Francisco, a chácara tornou-se um ponto turístico da cidade a partir da década de 1920.

Recebeu pessoas importantes como o prefeito de Nova York Fiorello La Guardia e o presidente eleito do Brasil, Julio Prestes e o cantor Orlando Silva e o campeão mundial de boxe Primo Carnera.

Com o fim da 2ª Guerra Mundial, a crescente industrialização na região e a falta de mão de obra especializada no campo, os Marengos lotearam suas terras.

Hoje elas compõem parte significativa do Tatuapé. Restaram apenas nomes de ruas, e estabelecimentos que remetem ao antigo vinhedo. Mudanças ao longo dos anos, como a verticalização e o ganho de novas vias de acesso, como a marginal Tietê, acabaram afastando o bairro da tradição da viticultura.

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