Moradores da Mooca se unem para plantar árvores na região
O passado industrial da Mooca, na zona leste de São Paulo, deixou uma herança cinza para o bairro: a região tem a menor quantidade de área verde da cidade.
Segundo dados da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, o bairro tem 2,39 metros quadrados de verde por habitante (m²/hab). A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda pelo menos 12 m²/hab.
Para combater o problema, moradores do bairro estão se reunindo e criando grupos. É o caso do Muda Mooca, criado em 2013 pelo advogado Danilo Bifone, 40.
Com 30 envolvidos, a equipe consegue plantar milhares de árvores de uma só vez. "Em um único dia plantamos mais de 1.000 arvores em Cidade Ademar. Agora nosso objetivo é ambicioso: plantar 4.000 arvores em Itaquera até o fim do ano em parceria com a subprefeitura", conta.
Para fazer isso, Bifone e os membros do grupo procuram canteiros e calçadas que possam abrigar as árvores. O passo seguinte é pedir autorização para os donos do local para efetuar o plantio, o que nem sempre é fácil.
"A Mooca tem uma história industrial. Muitos moradores perderam a ligação com a terra e não querem árvore, pois acham que ela vai gerar sujeira com as folhas", diz.
De acordo com Bifone, o plantio é feito com mudas adequadas para a ocupação urbana. "Mais de 90% das quedas de arvores acontecem por intervenção humana, como plantio errado e poda assimétrica", afirma.
Reinaldo Canato/Folhapress | ||
Danilo Bifone, morador da Mooca, planta uma muda de árvore em uma rua do bairro |
MOOCA VERDE
Outro grupo que atua na região é o Movimento Mooca Verde. O objetivo, nesse caso, é pressionar o poder público por novos espaços de lazer, como parques e praças, e pela revitalização de áreas verdes degradadas.
Dados da prefeitura mostram que a Mooca tem apenas quatro praças, o que a deixa com o terceiro pior índice de áreas de lazer em parques na cidade.
"Aos poucos estamos mudando essa estatística. Fazemos um mutirão e revitalizamos alguns lugares, como a praça Abronia, um lugar que antes era escuro e subaproveitado. Agora o lugar é ocupado pela comunidade", diz a advogada Adriana Paula Oliveira, 38, uma das fundadoras do projeto.
Entre as poucas áreas verdes da região está o Parque Sabesp Mooca Radialista Fiori Gigliotti, inaugurado em 2014. Com 21.200 m² e 3.000 arbustos e trepadeiras, serve como agente natural que minimiza o impacto do excesso de carros da Radial Leste.
"Como se trata de uma das poucas áreas verdes da região, o parque recebe mais de mil pessoas por fim de semana", conta Alfredo Marano, administrador do parque.
Para o presidente do Proam (Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental), Carlos Alberto Bocuhy, a falta de verde causou um desequilíbrio ambiental na Mooca. Segundo ele, a região chega a ter até cinco graus a mais em relação à temperatura da cidade.
"Se a Mooca tivesse mais verde, a região seria mais umidificada. Árvores robustas funcionam como reguladores térmicos e lançam gotículas de água na atmosfera", afirma Bocuhy.
Um dos problemas disso é o impacto na qualidade do ar. A estação de monitoramento da rede da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) na rua Bresser -que fica no bairro- indica que o nível de poluição, está acima da média da cidade na maior parte do ano.